Lá onde eu moro, na galhada da paineira,
Um João-de-Barro caprichoso fez seu ninho,
Tão diferente da sua moda costumeira,
Que eu duvidei, fosse obra do bichinho!
Tinha uma porta que se abria pro nascente
E, nessa porta, tinha tranca e tramela,
Uma janela com uma grade bem na frente,
Rodeando a casa uma cerca com cancela…
Um certo dia – ao acaso do destino –
Nos encontramos, eu e aquele passarinho,
E, curioso, eu me fiz então menino
Para saber por que fizera assim seu ninho…
E o João-de-Barro revelou-me com tristeza
Por que fizera de sua casa uma prisão:
Corria um boato por toda aquela redondeza
Que sua amada era um amor de perdição!
Eu tive pena do pequeno construtor
Que alimentava uma perdida esperança
De assegurar fidelidade no amor,
Erguendo a casa com extrema segurança…
Pois eu também pus sete chaves no meu peito
Para ninguém roubar de mim meu amorzinho:
Não adiantou tudo o que eu fiz – não teve jeito –
porque eu também perdi meu bem, fiquei sozinho!
Autor: Elizeu Petrelli de Vitor