Moço, desce do teu carro,
Vai tirando teu sapato
E apaga o teu cigarro
Quando entrares neste mato:
Esta é a última floresta
Que restou do que existia:
Aqui a natureza em festa
Se transforma em poesia!
Um riacho murmurante
Serpenteia como cobra;
Gotas de água cintilante,
Caem das folhas de Taioba…
Beija-flor faz o seu ninho
No grotão da cachoeira
E o preá vem de mansinho
Beber água na ladeira…
Numa teia de aranha,
Onde o sol reflete e brilha,
Um inseto se emaranha
E cai preso na armadilha…
Tem carreiros de saúva
Desenhados pelo chão;
Lá no oco da embaúba,
Pica-pau faz refeição…
Na galhada do Pau D’alho
Tem enxu de arapuá
E tem gotas de orvalho
Nas folhas do gravatá…
A pomba amargosa choca
No frondoso Timburi;
Na touceira da taboca,
Canta triste a juriti …
Entre as palmas do coqueiro,
Passo Preto faz seu ninho,
pro chopim chegar primeiro
e pôr lá o seu ovinho…
Lá na copa da figueira,
Carcará tá de tocaia,
Esperando uma hora inteira
Que da mata a lebre saia…
Moço, entra no teu carro:
Pode pôr o teu sapato,
Reacende teu cigarro,
Que saíste já do mato:
Esta é a última floresta
Que, por certo, tu já viste,
Pois do verde que nos resta
Cada dia mais pouco existe!
Autor: Elizeu Petrelli de Vitor