Numa poça de água do meu carreador,
Todo o santo dia um João-de-Barro vinha,
Com a persistência de um construtor,
Buscar barro mole para sua casinha…
Todo avermelhado,cheio de sujeira,
Amassando o barro com seu próprio bico,
Dando mil viagens até a paineira,
Ele era feliz, ele era o mais rico…
Todas as manhãs, quando ia pra roça,
Já me acostumara, eu parava ali,
Pra vê o João-de-Barro na beira da poça,
Mas,um certo dia, eu não mais o vi…
Logo imaginei:ele terminou…
Hoje eu posso ver sua nova morada…?
E um pressentimento então me dominou
Quando eu vi sua casa ainda inacabada…
Cadê o João-de-Barro? perguntei pra mim…
Se não tá na poça, se não tá no ninho?
Será que o destino foi cruel assim:
Ele foi embora e me deixou sozinho?
Porém minha angústia transformou-se em mágoa
Com a realidade dura e fatal:
Restos de veneno numa caixa de água
Foram para ele a dose mortal…
Ao pulverizar o meu cafezal,
Cometi um pecado contra a natureza:
Eu deixei ali uma dose letal,
Capaz de matar a ave indefesa!
Quando o encontrei, morto ali no chão,
Eu chorei ao ver o pobre passarinho…
E implorei a Deus: Não permita não,
Que outro João-de-Barro cruze o meu caminho!
Autor: Elizeu Petrelli de Vitor