Urutau cantando à noite,
Tem um canto misterioso:
No clamor da Mãe-da-Lua,
Há um gemido doloroso,
Que inunda a madrugada,
A chamar sua mãe amada!
Urutau não era ave:
Era um pobre indiozinho,
Que vivia em uma aldeia,
Onde a peste fez seu ninho,
Dizimando em sua matança
Ninguém mais; só criança!
Pra salvar o curumim
De uma sina tão funesta,
Sua mãe o tirou da tribo,
Escondendo-o na floresta,
Regressando para a aldeia,
Quando veio a lua cheia!
Mas a mãe não mais voltou
Pra buscar o seu filhinho,
Que deixara lá na mata…
E o menino, tão sozinho,
Abraçou-se aos animais…
Que a saudade era demais!
Foi num passe de magia,
Que esse pobre indiozinho,
Tão sozinho, sem ninguém,
Transformou-se em passarinho:
Mãe-da-Lua ou Urutau,
Pra chorar no matagal!
Urutau, que geme à noite,
Com seu choro misterioso:
Seu clamor, ó Mãe-da-Lua,
É uma queixa tão plangente,
Que ecoa na madrugada,
A chamar sua mãe ausente!
Autor: Elizeu Petrelli de Vitor